Exposição Individual

Táticas de Graffiti e Não Graffiti

Galeria Homero Massena, Vitória - ES, 2017

Texto curatorial 


Ao nos habituarmos aos signos mais palatáveis das propagandas em letreiros e outdoors na paisagem urbana, o encontro com frases indecifráveis ou símbolos desconhecidos pode gerar algumas incertezas. Desenhos e palavras aparecem como uma interrupção no caminhar condicionado do dia-a-dia e às vezes podem mesmo nos chamar a atenção para o contexto urbano em que estão inscritas. O autor Jorge Bacelar, em Notas sobre a mais velha arte do mundo (2002), aposta que a aceitação de determinadas formas de graffiti e a resistência a outras, se deve ao fato de que a “total opacidade de significação para os ’de fora’, poderá igualmente ser uma das razões para a imediata rotulagem do graffiti como algo de marginal e nefasto: devido à sua ilegibilidade, afasta uma população habituada a seguir diariamente as mensagens publicitárias que estruturam o espaço público”. A insatisfação gerada com tais inserções deliberadas na cidade teria motivado a criação de leis contra a pichação, hoje considerada um tipo de crime ambiental ao lado do desmatamento e da poluição atmosférica, do vandalismo e da depredação de patrimônios públicos. 


Interessado por essas classificações Renato Ren investigaria o que considera as questões primordiais do graffiti para além da tinta. A partir da experiência com uma prática mais tradicional surge em sua trajetória a necessidade de discutir outras possibilidades de intervenção urbana. Em Táticas de Graffiti e Não Graffiti, reflete sobre o crime ambiental de Mariana (MG), a inserção do indivíduo na cidade, a validação dos trabalhos de arte e sobre a própria noção do que é público. Durante cerca de nove meses de pesquisa, caminharia por diversos lugares da Grande Vitória, definindo estratégias de intervenção. É assim que desenvolve Crime Ambiental/Vandal Art, Planto Árvores, Manutenção Histórica/Calçada Portuguesa, Placa de Patrimônio, Letra em Bloco (Isto é graffiti), entre outros. Uma indicação crucial para o contato com essas intervenções é compreender que partem do entendimento do graffiti enquanto expressão escrita. A palavra é, para o artista, substância essencial de seus trabalhos, que emergem na urbe dialogando com os locais em que se inserem e seus habitantes. 


O artista leva para a Galeria Homero Massena fotografias e vídeo dos trabalhos realizados. Faz, com esse gesto, uma reflexão sobre o que seria um movimento de captura do graffiti pelo sistema da arte, que não raras as vezes, leva parte de murais para dentro de galerias, entre outras subversões. Seria após a década de 1960 (com a emergência de práticas contemporâneas de performance e a ideia do trabalho de arte efêmero) que o registro e o esboço passariam a ser apresentados em exposições, muitas vezes à revelia dos artistas, com a mesma importância das obras em questão. Em Táticas de Graffiti e Não Graffiti o que está à/na mostra é uma parte do processo, um índice. O trabalho é uma ação que acontece de fato no espaço público, está sujeito aos apagamentos do tempo e às interfaces com a ação humana. 


Assumir o graffiti como prática artística não é despotencializar suas questões fundamentais. O que está em jogo é a forma como poderá adentrar os espaços mais institucionalizados, abrindo a discussão sobre sua atuação no meio urbano e também em museus e galerias. Apesar de concordarmos com a inexistência de um lado de fora às instituições de arte, como propõe pensar a artista Andrea Fraser¹, é possível a existência do que corre à margem, tensiona os limites físicos e conceituais do dentro e fora. Por isso é importante observar como o movimento, mesmo que alvo de capturas como as comentadas anteriormente, ainda resiste em seu motivo condutor: parte sempre do ponto que, se é graffiti, independente da forma como se apresenta, está nas ruas, foi feito sem autorização e quer questionar o estado das coisas


Clara Sampaio 

Curadora 

_____________________________ 

¹ Aqui fazemos referência ao texto Da crítica às instituições a uma instituição da crítica (2005), In: Revista Concinnitas, ano 9, v. 2, n13, 2008, tradução de Gisele Ribeiro. 

Faça uma visita virtual navegando no mapa acima. Clique sobre os marcadores para visualizar as obras.










Trabalhos



Manutenção Histórica - Calçada Portuguesa

Técnica: Cerâmica

Dimensões: Variáveis

Ano: 2017

44 intervenções


Alecs

Pipa

Japão

Cyborg

Barbara 62

Taki 183

Futura 2000

Cornbread

Pacamã

Curimatã

Tilápia

Timburé




Letra em Bloco - Isto é Graffiti

Técnica: Texto em baixo relevo sobre bloco de concreto

Dimensões: (A x L x P) 6 x 19,5 x 9,5 cm

Ano: 2017

2 intervenções





Planta Baixa - Site Ocioso

Técnica: Stencil e tinta aerosol s/ vinil adesivo

Dimensões: (A x L) 29,7 x 21 cm

Ano: 2017

23 intervenções


Em ação.

Stencil

Planta baixa da galeria Homero Massena




Sobre Inserir-se / Inserir-se Sobre

Técnica: Stencil e tinta aerosol

Ano: 2017

18 intervenções





Placa de Patrimônio

Técnica: Texto feito com punção sobre alumínio reciclado 

Dimensões: Variáveis 

Ano: 2017

19 intervenções


No exterior do cubo branco

Patrimônio Nº 65

Texto relacional

Patrimônio Nº 65

Texto em transito

Patrimônio Nº 65

Publicidade conspurca a urbe

Patrimônio Nº

Dentro / Fora

Patrimônio Nº 65

Oi, Minha TAG é

Patrimônio Nº 65

Site Goitacás

Patrimônio Nº 65

Lugar geopolítico

Não lugar

Patrimônio Nº 65

Ferramenta 01

Ferramenta 02

 Ferramenta 03




Intervenção do CEU

Técnica: Stencil e tinta aerosol s/ parede de obra abandonada

Dimensões: Variáveis 

Ano: 2017





Planto Árvores

Técnica: Stencil e tinta aerosol 

Dimensões: (A x L) 50 x 38 cm

Ano: 2017

34 intervenções





Crime Ambiental / Vandal Art

Técnica: Stencil, spray sobre papel e cola PVA

Dimensões: (A x L) 59,4 x 42 cm

Ano: 2017

6 intervenções


Foto: NASA - Criação: 8 de dezembro de 2015 - Foz do Rio Doce, Regência-ES.




Exposição montada na Galeria Homero Massena (Vitória, ES)




Registro videográfico




Material Educativo