10º Edição do Festival Board Dripper


Sobre o festival



O projeto de arte chamado "Board Dripper" foi fundado em Querétaro, México, em 2009, com o propósito de reunir alguns dos melhores artistas para promover e mesclar a cultura do skate, o graffiti e a importância da arte como meio de comunicação social. A primeira edição do festival foi um sucesso local, levando os organizadores a transformá-lo em um evento anual em constante evolução. Em 2012, o festival começou a convidar artistas de fora de Querétaro, trazendo novas obras de artistas renomados, como Smith, Kofie e Dhear.
No ano de 2013, o Board Dripper deu um passo significativo no cenário internacional, com a participação de artistas como Alexis Diaz, Jufe, Jade, JAZ, Fredone Fone, entre outros. A cada edição, o festival continua a aprimorar-se e crescer, com um forte envolvimento da comunidade local e a participação de artistas internacionais. O Board Dripper é um evento que celebra a cultura urbana, a expressão artística e a comunidade criativa, enriquecendo a cidade de Querétaro com obras de arte visualmente impactantes e culturalmente significativas.


Diário de viagem

Um breve relato da viagem e minha participação no festival

A história desse rolê inicia-se com o convite que eu e outrxs artistxs brasileirxs, como Basi, Moska, Fredone Fone, Nega Ana, KRN, Gejo e Marilena Grolli, recebemos para participar da décima edição do festival Board Dripper, realizado em setembro de 2019 na cidade de Querétaro, México. Para que eu pudesse participar do evento, me inscrevi no edital de locomoção da SECULT-ES e fui contemplado com o apoio financeiro para a compra das passagens. Depois de aprovado, comecei a correr atrás de organizar e planejar minha viagem e participação no festival.


Fiquei muito feliz com o convite e com o apoio que recebi, pois um dos meus sonhos de viagem era conhecer o México. E dessa forma, participando de um festival e contribuindo com minha formação artística, é ainda melhor.


Minha relação com o pessoal do Board Dripper teve início em 2016, quando, por intermédio do projeto Latinta Mural, criado por Fredone Fone, organizou a vinda dessa galera para Vitória-ES. Aqui eles realizaram alguns eventos em parceria com o Latinta, sendo um deles a exposição Fricción, que ocorreu na Casa Porto das Artes Plásticas. Participei dessa exposição com uma obra que tinha como seu principal material e disparador para criação um shape de skateboarding, no qual eu fiz uma obra tridimensional utilizando esse shape e outros materiais. O título da obra é " Model Type T.C. 8.".

Chegando na Cidade do México.

Nos primeiros dias, fiz alguns passeios para aprender sobre a cultura mexicana, me inteirar de seus costumes e tradições. Foram rolês variados, como provar comidas tradicionais de rua, visitar museus e galerias de arte, e participar da festa do Dia da Independência do México, pois tudo isso contribuiria para o desenvolvimento do meu trabalho de pintura mural na cidade de Querétaro. Abaixo estão alguns registros feitos durante esses passeios e pesquisas.


Depois de alguns dias, chegou a hora de partir da casa do nosso querido amigo Ale, na Cidade do México, e ir para Querétaro. Mas antes disso, fizemos uma ótima refeição. Muchas gracias, Ale!

Ao chegar em Querétaro, fui recebido na rodoviária pelo Cheke, um dos organizadores do festival. Dali, ele me levou para o alojamento na Casa de Vinculación Social UAQ, localizada no bairro Felipe Carrillo Puerto. A recepção foi ótima, e eu já estava ansioso para começar os trabalhos.

Saímos para uma caminhada pelo bairro, acompanhados por integrantes da Casa de Vinculación e do festival Board Dripper, com o objetivo de conhecer a comunidade e encontrar muros para realizar a pintura. Durante essa caminhada, observei tudo com calma, como parte de uma investigação artística. Muitos elementos me chamaram a atenção, como as pessoas que moravam naquela região e seu comportamento no bairro, a arquitetura local, o clima quente e seco, a vegetação, entre outros detalhes. Fiz alguns registros fotográficos ao longo do percurso.

Abaixo, há uma foto da casa que escolhi para realizar minha pintura. No entanto, antes disso, eu, Verônica e Luiz, membros da equipe do festival, tivemos uma conversa com o Sr. José, o proprietário da casa. Explicamos o projeto a ele e, em seguida, tive que me comunicar em espanhol e apresentar meu trabalho. O único problema era que eu não tinha um croqui da arte que faria na parede naquele momento. Mesmo assim, o Sr. José autorizou o trabalho.


Antes de selecionar essa casa, eu tinha escolhido outra muito semelhante, com as mesmas cores, vermelha e branca. No entanto, outra artista se confundiu e começou a pintura na parede que estava reservada para mim. Quando percebi a situação, já era tarde demais.


O que me chamou a atenção foi que muitas casas naquela região possuíam exatamente a mesma cor. Eu me questionava sobre o motivo disso, e acredito que descobri quando estava prestes a iniciar a pintura. Ao passar a mão na tinta vermelha, percebi que ela soltava um pó. Imagino que esse vermelho seja feito com uma mistura de cal, água e pigmento, já que não é um vermelho puro e se desgasta facilmente. Esse tom mais fechado me agradou bastante.

Calle 20 de Noviembre 168, Felipe Carrillo Puerto, 76138 Santiago de Querétaro, Qro., México 

Com a casa já escolhida, fiquei mais tranquilo. Agora era hora do almoço e, que maravilhoso almoço mexicano! Gostei muito dos Chilaquiles Verdes, das Tortillas com frijoles e de outros pratos, incluindo um com cacto, cujo nome esqueci. Estava delicioso, embora bastante picante (rs).

A família do festival reunida à mesa, desfrutando de uma conversa agradável. Era um momento construtivo e descontraído, perfeito para praticar espanhol e ensinar um pouco de português. Aprendi muito durante esses encontros com pessoas incríveis.

Minha estadia em Querétaro era breve, com apenas alguns dias para realizar a pintura e ainda participar das outras atividades do festival. Parei por um momento para desenvolver um croqui, mas não estava fluindo, então decidi não forçar e relaxar. Refleti sobre tudo o que havia vivenciado durante esses dias no México, pensei no meu trabalho e lembrei que a arte dos povos tradicionais que habitavam esse território antes da chegada dos espanhóis sempre foi uma referência em minha pesquisa artística, desde o início.


Decidi, então, ir até a parede e criar a obra diretamente nela, permitindo-me ser guiado pelo meu inconsciente imagético e criativo, combinado com o movimento e a memória. Senti-me leve e deixei de lado o medo de errar ou acertar, e assim comecei a dar forma às figuras geométricas do mural. O resultado ficou entre o figurativo e o abstrato, algumas formas faziam referência a partes de animais e humanos, mas recombinadas para criar criaturas não identificáveis. E assim finalizei o primeiro dia de pintura.

renato ren

No dia seguinte, adicionei a primeira camada de cor ao mural. Criei todas as cores que utilizei na obra, fazendo misturas entre as cores pré-existentes.

No final da tarde, houve um evento de apresentação do festival, que quase perdi devido a um erro de comunicação, pois acabei ficando para trás. No entanto, o querido amigo Alejandro passou pela casa e me deu uma carona para o evento, o que nos permitiu chegar a tempo.

Apenas tirei uma foto quando estávamos saindo do evento.

No dia seguinte, retomei a pintura e adicionei mais cores. Uma das moradoras da casa me ofereceu água, e eu aceitei de bom grado, já que o dia estava extremamente quente. Água sempre é bem-vinda.


Durante a pintura, um homem de bicicleta se aproximou e começou a conversar comigo. No entanto, ele falava muito rapidamente e usava muitas gírias locais, o que tornou difícil para mim entender a maior parte do que ele estava dizendo. Parecia que ele estava interessado em saber o que eu estava pintando, e eu tentei explicar, mas acredito que ele não tenha entendido muito bem. No final, mencionei que era brasileiro e que não falava nem entendia muito bem o espanhol. Ele reagiu de uma maneira um tanto debochada e se afastou. Fiquei um pouco confuso com a situação.

No dia seguinte, com o sol brilhando intensamente, enquanto eu continuava a pintura, comecei a sentir os efeitos do cansaço acumulado da viagem e dos dias de trabalho árduo. Para animar o dia e dar um impulso à minha pintura, um dos moradores da casa me ofereceu uma cerveja. Meus olhos brilharam, e minha boca começou a salivar. No entanto, havia um problema: no México, é proibido consumir bebidas alcoólicas na rua. Eu disse a ele que aceitaria, mas que seria difícil beber na rua, pois eu não tinha uma mochila para esconder a cerveja e beber discretamente. Foi então que esse cara salvou o dia ao sugerir que eu poderia deixar a cerveja do lado de dentro do quintal da casa e beber lá. Eu agradeci e dei o primeiro gole, que desceu refrescante da cabeça aos pés.


No entanto, minha alegria foi efêmera. Do nada, um idoso apareceu pelo portão carregando uma lata e outros objetos na mão. Pensei: "Maldito! Será que ele jogou minha cerveja fora e pegou a lata?" Fui verificar e, infelizmente, era exatamente isso que ele tinha feito, para minha tristeza. Deixei para lá e concentrei-me no meu trabalho.

No dia 20, tivemos mais um evento no centro da cidade de Querétaro. Nesse dia, eu e Fredone faríamos uma apresentação musical com nossa banda, Conteúdo Paralelo. Cheke nos levou de carro para o evento, junto com nosso amigo Gejo, de São Paulo.

Nesse mesmo dia, também houve a exposição "Gráfica X Aniversário," que apresentava cartazes comemorativos impressos em serigrafia por vários artistas. Além disso, houve outra exposição chamada "Bordando Desde La Raiz," resultado de uma oficina de bordado artístico ministrada pela artista Violeta Arciga. Eu realmente gostei das exposições e tive a oportunidade de conversar com alguns artistas que estavam presentes. Houve uma troca significativa de ideias e informações durante essas conversas.

No dia seguinte, retomei a pintura. O mural estava praticamente finalizado, restando apenas algumas correções e ajustes.

Não pude deixar de registrar a passagem de um grupo de pessoas indo comemorar uma festa religiosa tradicional local.

No domingo, dia 22 de setembro, tivemos um momento de confraternização na sede do Board Dripper. Nesse dia, desfrutamos de um churrasco mexicano, com direito a quesadilla vegetariana na grelha e outras delícias. Além disso, realizamos uma pintura coletiva durante o churrasco.

Na segunda-feira, dia 23 de setembro, foi o dia de finalizar a pintura pela manhã. Eu queria incluir algo escrito na parede, uma mensagem ou sugestão para a comunidade ao redor da pintura. Pensei em um texto e escrevi em português, depois pedi a Verônica e Manolo para me ajudarem a traduzi-lo. Também pedi a opinião deles sobre o conteúdo do texto, e eles disseram que estava bom. Com essa confirmação, senti-me confiante para escrever e, assim, finalizar minha pintura mural.

renato ren board dripper 2019

Observe por tres minutos, reflexione y suelte su imaginación, para absorber el espírito de la cooperación comunitaria y llenarse de amor y esperanza.

Finalizo o diário de viagem com fotos dessas maravilhosas pessoas da Casa de Vinculación Social. Estou muito feliz com a viagem e com minhas novas amigas Clary, Verô e Sandy.

O apoio que obtive através do edital 001/2019 - Locomoção da SECULT-ES, refere-se somente a compra das passagens aérea e terrestre, todos os outros custos da viagem foram pagos por mim e pelo festival Board Dripper.