O trabalho "Apague os farol" é formalmente composto por duas áreas que dividem a tela ao meio. Na parte superior, encontra-se um recorte do padrão geométrico que identifica as viaturas da polícia militar no Espírito Santo. Na parte inferior da tela, consta a frase "Apague os Farol P.J.L.", pintada com tinta spray. Essa frase é comumente escrita por traficantes locais em muros de bairros da periferia para alertar os motoristas visitantes sobre as regras de conduta impostas àquele território. A sigla "P.J.L." descreve o lema "Paz, Justiça e Liberdade" e é utilizada por integrantes de facções criminosas, tanto por aqueles que cumprem pena quanto por aqueles que estão em liberdade e têm a intenção de prestar apoio aos parceiros encarcerados.

Ao me apropriar dos dois símbolos opostos, que compõem a iconografia urbana e o imaginário do crime, e colocá-los juntos em uma composição pictórica, proponho uma análise das duas formas de poder e violência: uma legal e outra ilegal.

Considerando os constantes abusos de autoridade que são regularmente noticiados pela mídia - a corrupção e a violência cometidos pela polícia, assim como pelos traficantes -, começamos a questionar quem irá garantir a segurança local, já que a instituição responsável por isso torna-se tão ameaçadora quanto os criminosos.

Como cidadão e artista, me sinto pressionado pelos dois poderes. Com esse trabalho, tenho a intenção de tensionar os possíveis limites e aproximações entre as duas formas de regulação e controle.

Por se tratarem de símbolos que fazem parte do cotidiano das comunidades carentes, o trabalho apela para o uso de uma linguagem artística popular e busca estimular o pensamento crítico sobre um problema social que cerca tais territórios.