A série Bandeiras do Brasil propõe uma desconstrução crítica e provocativa da flâmula nacional, subvertendo sua simbologia tradicional para desafiar narrativas conservadoras e ultranacionalistas. Frequentemente associada a discursos autoritários e excludentes, a bandeira é reimaginada como um espaço de questionamento e reflexão sobre as complexidades do Brasil contemporâneo.
O processo criativo parte de uma análise aprofundada das tensões políticas e sociais que marcam o país, abordando questões que vão desde as marcas históricas da colonização até as pressões do imperialismo econômico nos dias atuais. Por meio dessa investigação, a obra desconstrói as ideias fixas de pertencimento e identidade nacional, incentivando o espectador a reconsiderar os significados que esses símbolos carregam.
Mais do que uma crítica, a série oferece uma nova possibilidade interpretativa: uma bandeira que não apenas represente, mas que também confronte e ressignifique os valores que definem a relação do indivíduo com seu país.
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A obra “Enxada e vermelho sobre bandeira do Brasil - 01", é composta pela representação da bandeira nacional, coberta parcialmente por uma veladura vermelha. Sobre a imagem, aparece a figura de uma enxada, inscrita com stencil e tinta aerosol.
O trabalho busca reconfigurar e desconstruir a flâmula por meio da inserção de cores e símbolos, que reivindicam outras possibilidades de pertencimento e identidade, contrárias à discursiva patriota tradicional e conservadora, que se apropria dos símbolos nacionais para chancelar discursos autoritários e fascistas. Em síntese, o trabalho contraria a lógica ultranacionalista ao contemplar camadas marginalizadas da sociedade brasileira.
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“Enxada e vermelho sobre bandeira do Brasil - 02”, é uma variação seriada da obra anterior, com a adição da técnica de colagem. Nessa versão, a bandeira aparece parcialmente coberta pela sobreposição de outra pintura, na cor sólida vermelha, sobre a qual, é gravado uma enxada com stencil e tinta aerosol.
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O Tiro Saiu Pela Culatra é uma serigrafia sobre papel, produzida em série pelo artista. Sua referência histórica é a primeira bandeira republicana, chamada de "Estados Unidos do Brasil", criada por Ruy Barbosa e utilizada entre 15 e 19 de novembro de 1889. A problematização da obra parte da semelhança entre a versão da bandeira de Ruy Barbosa e a bandeira dos Estados Unidos da América, diferenciando-se apenas pelas cores utilizadas. Essa semelhança deixa vestígios da subserviência histórica dos chamados "patriotas" em relação ao imperialismo estadunidense. Além disso, de maneira irônica e crítica, adicionou-se ao trabalho o desenho de uma mão fazendo o símbolo de uma arma, porém, com o dedo que simboliza o cano curvado para si. Isso expõe a contraproducente e nefasta ideologia armamentista, amplamente propagada por "pessoas de bem", "patriotas" e até mesmo pelo ex-presidente da república, que ocupava a presidência na época da criação dessa obra.
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A obra Republiqueta reconfigura a bandeira do Brasil, inspirando-se em ícones da história da arte, como a famosa banana criada por Andy Warhol para a capa da banda Velvet Underground e a polêmica obra Comedian do artista Maurizio Cattelan. Na releitura, a banana de Warhol ocupa o centro da bandeira, sobreposta por uma faixa branca que remete a uma fita adesiva, em alusão direta à intervenção de Cattelan. Sobre essa faixa, está inscrita a palavra Republiqueta, uma referência crítica ao termo pejorativo "República das Bananas".
Por meio desse conjunto de símbolos, a obra provoca o espectador de maneira irreverente, incentivando reflexões sobre o sistema da arte e as dinâmicas de valor e apropriação nele contidas. Além disso, problematiza a instrumentalização de símbolos nacionais por grupos ultranacionalistas para validar discursos autoritários e fascistas. Republiqueta combina ironia e subversão, desafiando os limites entre o humor e a crítica sociopolítica, enquanto recontextualiza ícones da arte e da cultura pop em um debate profundamente brasileiro.