Exposição coletiva Transitar o Tempo - Museu Vale - Vitória–ES - 2024
(Obra comissionada para o Museu Vale)
Título: Calçada Portuguesa, 2024
Materiais: Cerâmica, cimento e areia
Dimensões: Variáveis
A obra consiste em uma série de peças de cerâmica moldadas à mão que evocam a materialidade da tradicional calçada portuguesa, mas com uma inversão simbólica que as torna frágeis, efêmeras. Gravadas com os nomes de espécies ameaçadas da fauna e flora do Espírito Santo, essas peças exploram uma relação sensível entre cultura, memória e a iminência de extinção.
Por meio de uma pesquisa sobre as espécies em risco, o artista utiliza a inscrição em baixo-relevo, realizada com carimbos alfanuméricos próprios para biscuit, como uma marca de identidade e denúncia. Cada peça se torna, assim, um registro e uma homenagem silenciosa, um “memorial” que traz ao presente o questionamento sobre nossa responsabilidade ambiental e a urgência de reverter os impactos do aquecimento global e das dinâmicas capitalistas que desequilibram ecossistemas inteiros.
Dispostas de modo a integrar-se ao espaço externo da Casa Porto das Artes Plásticas, as peças interagem com a arquitetura sem rompê-la, convidando o visitante a um percurso investigativo e contemplativo. Essa disposição espacial, ao invés de impor, insinua; o público é levado a buscar ativamente esses “marcos” de um passado próximo e de um futuro incerto, ao mesmo tempo. Tal integração entre o trabalho e o espaço cria uma narrativa interativa que reforça a reflexão sobre o papel da memória coletiva em meio à destruição ambiental.
A escolha da cerâmica, material que simboliza a vulnerabilidade, expande a poética da obra ao se contrapor à durabilidade do calcário, tradicionalmente usado nas calçadas portuguesas. Ao substituir a pedra pela cerâmica, o artista elabora uma metáfora sobre a fragilidade dos ecossistemas e o desafio de preservar um legado em constante ameaça.
Assim, o trabalho estabelece um espaço de tensão entre a presença física e a memória evocada. Ele nos chama a refletir não apenas sobre o desaparecimento de espécies específicas, mas sobre a efemeridade do nosso próprio papel como guardiões da biodiversidade.